Por Dr José Carlos de Oliveira.
A antropologia portuguesa aplicou então o termo ‘Chefes Costumeiros’ partindo do princípio do poder do chefe da família extensa e do
território político e religioso que representava. Convinha à administração colonial, de acordo com as suas necessidades, apoiar‑se nestas ‘chefias’ para complementar o seu domínio. Mais tarde, o
termo deixou de ter o significado que, na altura, manifestamente detinha. Se olharmos atentamente a fotografia ao lado, de nossa autoria (tirada por volta de 1959), veremos que o domínio exercido
pelo ‘chefe costumeiro’ dava‑lhe a prerrogativa de escolher de entre as mulheres mais jovens, as mais bonitas para suas companheiras. Além disso, o caso do regedor Nankinsi, era o caso
paradigmático do poder discricionário. Enviar gente do seu povo ou não, para o contrato, bastava que o desgraçado tivesse uma mulher bonita.
Como podemos facilmente constatar, só são transcritos documentos referentes à zona política zombo e por eles se confirma a influência dos
zombo no processo de independência de Angola. Estimava‑se que, na altura, residiriam na zona de Kinshasa cerca de sessenta mil angolanos. Também sabemos, por tudo que já foi dito, que a sua
maioria eram pequenos e médios comerciantes de origem zombo.
Seguidamente parafraseamos a carta de Bunga Paul, visto que o seu domínio da língua portuguesa, torna o documento de difícil leitura,
aproveitando ainda para tecer algumas considerações.
“Exmo Senhor José Oliveira,
Informamos a Vª. Exª., senhor José, que chegámos muito satisfeitos. Só chegámos, por volta das 20H00, porque o avião teve um problema
técnico (pane) e só saiu de Luanda às 18h30. Embora não tenhamos qualquer resposta sua desde 24/3/1962, nós, os Chefes do Distrito da Província do Kongo Português, tivemos uma conferência
informando a delegação dos C.C.K.P, que não tivemos qualquer resposta do governo Português, em Luanda. Para os C.C.K.P é um facto incompreensível, todavia apresente a nossa declaração ao pessoal
do distrito da província do Kongo Português, endereçando‑lhes um abraço.
Ficaremos muito gratos pela forma como o governo português está oficialmente a tratar da nossa documentação. Fizemos a
apresentação da carta de 30/03/1962 ao senhor Cônsul Geral de Portugal (em Leopoldeville) continuando a reiterar os nossos agradecimentos ao nosso
governo português.
A Bem da Nação”
Esta carta traduz, de forma inequívoca, a sabedoria tradicional zombo e senão, notem‑se as referências e relações que René
Péllissier lhes aponta:
“(…) les Bazombo sont, on l’a vu, essentiellement tournés vers les activités commerciales, ce qui leur donne une souplesse et une mobilité
assez remarquables. L’intérêt qu’ils manifestent pour les joutes de São Salvador est devenu pratiquement nul. Leur ville de référence est non pas la chétive São Salvador mais Maquela do Zombo.
La mission baptiste de Quibocolo est leur phare car, alors que les Baxikongo protestants du concelho de São Salvador sont minoritaires chez eux,
les Bazombo baptistes du concelho de Maquela do Zombo y sont largement majoritaires.
C’est au sein de leur communauté d’émigrés que Simão Toko a fondé son église, et son exemple est à l’origine indirecte de la
création le 23 décembre 1956 de l’Assomizo ou Association mutuelle des ressortissants de Zombo, sous l’autorité d´Emmanuel Kunzika et d’André Massaki. Reconnue légalement par les autorités
belges, l’Assomizo doit, pour se maintenir en vie, faire preuve de prudence et limiter statutairement ses activités sociales à l’intérieur de sa communauté, jusqu'à l’indépendance du Congo. Grâce
à ces deux dirigeants, auxquelles on ajoutera Ferdinand Ndombele ou Dombele, l’ALLIAZO, qui sera la transformation de l’Assomizo après l’indépendance du Congo, se définit comme suit :
« un parti ethnique créé pour l’union et la défense des intérêts de Zombo, mais dont l’ésprit se double d’un nationalisme plus large
7(…)».
O sublinhado é nosso e pretende reforçar os elementos apontados. Todo o discurso vai no sentido de demonstrar a secular capacidade dos zombo,
para interferirem eficazmente, na política regional. Os portugueses residentes na zona sofreram profundamente as consequências da actuação dos zombo e da descolonização a que estiveram
sujeitos.