Por General Adelino Coelho (*)
No início de 1960, nos territórios da Guiné, Angola e Moçambique não havia mais de 18.000 homens em armas, ao passo que um ano depois, os efectivos já totalizavam os 50.000. É patente a
capacidade de resposta militar aos primeiros acontecimentos.
O primeiro emprego de tropas foi na Baixa do Cassange, região produtora de algodão, nos primeiros dias de Janeiro de 1961. O movimento de revolta de trabalhadores obrigou à intervenção, em
reforço, de mais tropas, que usaram de muita força e violência para controlar o movimento de revolta dos trabalhadores. Este movimento não se inseriu ainda numa luta organizada contra Portugal.,
já que na sua origem esteve o descontentamento dos trabalhadores do algodão relativamente à companhia concessionária, que tinha o monopólio da sua colheita e comercialização. A violência na
actuação, de parte a parte, foi desproporcionada aos acontecimentos, o que agravou a situação.
Verdadeiramente, são os acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1961 em Luanda, com assaltos à Casa de Reclusão Militar, à cadeia de S. Paulo, à Esquadra de Polícia Móvel e ataque a uma patrulha da
PSP, com o assassínio de alguns elementos das forças de segurança, que marcaram a viragem. Nessa altura os efectivos militares em Luanda eram, na sua maioria, formado, por tropas de nativos e em
número muito reduzido para a manutenção da ordem.
Os dias que se seguiram foram de grande violência e ansiedade, sobretudo porque se juntaram simpatizantes do PNLA (Partido Nacional para a Libertação de Angola), núcleos protestantes da UPA,
estudantes católicos de S. Domingos, e a violência cresceu quando se realizaram os funerais dos polícias mortos e de alguns brancos.
Esta fase coincidiu com a reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar a questão da subversão em Angola. A UPA (Frente Nacional de Libertação de Angola) assessorada por conselheiros
americanos pretendeu aproveitar a oportunidade para conseguir as simpatias mundiais. Nessa Altura, já se preparava a sublevação geral do Norte de Angola (S. Salvador, Uíge,Dembos e Quanza Norte),
uma zona que, a partir de 15 de Março, foi vandalizada pela UPA, seus apoiantes e seguidores destruíram fazendas, postos administrativos e destacamentos policiais; atacaram brancos e negros,
especialmente “bailundos” que trabalhavam nas roças de café, crianças e mulheres… Foi uma onda nunca antes vista de chacina e assassínios, causando, ao que então se calculou, a morte de 1.000
brancos e 6.000
negros.
Em consequência dessa onda de violência, foi também grande e desproporcionada a revolta dos brancos, especialmente fazendeiros. E numa situação em que a rede administrativa quase deixara de
existir, havia, por conseguinte, toda a liberdade de movimentos, nomeadamente para a execução das maiores atrocidades. O movimento em questão era essencialmente de base tribal (o que também é
demonstrado pela chacina dos bailundos).
…” Os ataques a fazendas e povoações continuaram no mês de Abril. E é este o contexto que dá ao Governo o argumento final para determinar a intervenção militar com rapidez e capacidade.
No dia 13, perante a gravidade da situação e a necessidade de reforçar e muito as medidas militares, foi ordenado o envio, o mais rapidamente possível, de expedições militares para Angola. Logo a
19 (via área) e 21 (via marítima) seguiram os primeiros contingentes: 4 Batalhões de Caçadores (os que nos antecederam), sendo os três seguintes (132,137 e 141) embarcaram no dia 15 de Junho de
1961, em dois navios. Tal celeridade denota que já havia um planeamento de mobilização, o qual incluía Companhias de Cavalaria e Artilharia, para actuarem como caçadores de infantaria, e outras
nas suas missões especificas, e, paralelamente, unidades e subunidades de apoio de combate e de apoio de serviços”...
…” Mas, apesar dos esforços militares, o apoio aos movimentos de libertação por parte dos dois grandes blocos mundiais e da própria ONU não se fez esperar e seguiu num crescendo com o
incumprimento das resoluções da ONU por Portugal. O desenvolvimento da capacidade durante os primeiros anos não teve correlativo na agilidade política em lidar com a questão.
E, aos poucos, os aliados de Portugal foram diminuindo, inexistindo apoio da Nato porquanto a organização não permitia a utilização de armamento cedido ao nosso país nos teatros de operações do
Ultramar. Isto é, o país estava cada vez mais isolado politicamente, isolamento que se ressentia à parte militar, que sempre afirmou e reafirmou que a solução para a guerra era política e tinha
um tempo certo para ser adoptada. Assim, o sector logístico, que bastante cedo começou a dar excelentes provas no seu exigente campo de acção, começou aviver sérias dificuldades, que se
reflectiram nos próprios combatentes.
Mas foi em 1961 que o 141 chegou a Angola e, nessa altura, ainda se acreditava que a força militar iria preparar a possibilidade da solução politica.”
" Angola até sempre!
E a guerra prolongou-se por mais onze longos anos, progressivamente mais sofisticada e armada, o que,obviamente, ia causando um número mais elevado de baixas em ambos os contendores:
Forças Armadas Portuguesas - Mortos- 3.455; Deficientes permanentes- 4.684
Guerrilheiros: Não é possivel precisar um número exacto, ou mesmo aproximado, devido à dispersão pelos três Movimentos de Libertação.
A todos eles prestamos a nossa homenagem.
Não nos cabe aqui historiar o modo como foi feita a descolonização. Nem o trauma de milhares de "retornados". E muito menos contar a fraticida e devastadora guerra civil que se seguiu e que não deixou que víssemos Angola em paz.
Hoje, a esta Nação de pleno direito, livre e independente, saudamos o êxito do esforço da sua reconstrução e o paralelo desenvolvimento económico, para que possa proporcionar ao seu POVO as melhores condições de vida e felicidade que bem merece"
In “ História do Batalhão 141” ( Comando sediado na Damba 1961/63)
(*) General do exército português. Em 1961/63, foi um dos oficiais do Batalhão 141, estacionado na Damba.
Texto enviado por Artur Méndes.