Por Daniel Zola
Na véspera de comemoração do 50° aniversário dos ataques dos nossos valentes heróis, contra os ocupantes lusitanos da nossa terra mâe Damba. Nesta ocasião da festa, primeiramente gostaria de
congratular todos os nossos corajosos heróis que se sacrificaram pela pátria pagando o preço em verter o seu sangue precioso para que hoje nós todos, os DAMBIANOS sejamos livres do jugo da
opressão, da tirania, do esclavagismo , da dominação colonial, as minhas sínceras homenagens a eles, os nossos
destemidos combatentes "makessa mampuena" tanto os que são ainda vivos ou os que são mortos.
Nesta dura batalha sangreta que provocou a fuga dos Angolanos (Dambianos) na Republíca vizinha do Congo Belga, o meu pai
foi um dos protagonistas, embora que ele nunca foi famoso e nem conhecido a nível de Angola ou sobretudo da Damba. Ele chamava-se DOMINGOS ZOLA ou mais vulgar LUMINGU ZOLA, era cunhado de soba
KIALA KIA NTALU, soba de MABUBU (pf:veja FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA DAMBA
9. ) O meu pai era o irmão mais jovem da mulher do soba, dona MAKUMBU ma BONDO, foi um dos primeiros indígenas a ser classificado na posição de assimilado, na altura
possuía já uma mansão no antigo bairro (Quicoxe) KINKOSI kia Mabubu, actualmente bairro N'gola Nova na estrada entre o Campo da aviação da Damba e o rio LUVÚ, na pequena praça de KINKOSI, ali precisamente se encontrava a residência do meu pai, que foi bomberdeada pela aviação portuguesa vinda do Negage, até
hoje em dia os alicerces da casa e o fontanário existe como prova da sua existência, conforme escreveu o nosso colaborador Artur Mendes: "as ruinas nâo apagam memória " normalmente este sítio
devería ser considerado como um monumento histórico e classificado na lista de património nacional e cultural, mas infelizmente ninguém escreveu esta memória e ninguém sabe mesmo o valor destas
relíquias. Domingos Zola, além de ser um homem considerado da sua época, ele tinha também uma fazenda de cerca quinze hectares de plantação de café na fazenda (bacha) de Kiyembe e uma dezena
de trabalhadores que ele empregava, trabalhadores maioritariamente provenientes de sul de Angola.
O meu pai foi um dos guerrelheiros nacionalistas, desempenhou o cargo do comandante em chef no ataque do dia 2 de
Maio de 1961, não há glória sem sacrifício, ele sacrificou a sua vida, metendo-se em perigo da morte, apesar de não ser famoso, porque não queria honra nem glória, como os outros arrogantes e
assedentados de poder, o seu ardente desejo era de ver um dia o seu povo e a terra dos seus bisavôs livre dos ocupantes portuguêses que nos tiranizavam e nos oprimiam .
A história escrita aqui não é uma lenda, mas uma pura verdade, bem sei que muitos de nós contestarão a minha versão, mas o
meu desejo não de desafiar qualquer pessoa que pode saber outra verdade sobre o evento, mas que ele tenta de nos ajudar a escrever a nossa história e pela que ela seja bem construida,
pessoalmente estou pronto para colaborar à qualquer pessoa que manifestar a sua oposição.
Além de ser um homem determinado pela liberdade do seu povo, porque todo ser humano é feito para viver livre do esclavagismo, a exploração, a tirania, a opressão, a humiliação na nossa
própria pátria, a injustica social, a desigualidade, a dominação da raça negra pelos brancos, tudo isso era uma coisa inaceitável pelo meu pai. Com efeito, tinha também contactos com os
dirigentes do antigo partido ABAKO ( associação de Bakongo ) que era dirigido pelo Mbuta Nkanza, Disengomoka, M'pinzi, Kingotolo, Norbert Nkulu e Joseph KASA VUBU, primeiro presidente do Congo
Belga (Congo Kinshasa) para não citar todos, ele fazia um tráfico de produtos alimentares da primeira necessidade, porque naquele tempo todo produto que levava a marca "made in Portugal " era
muito apreciado no vizinho Congo, ( made in Portugal para não dizer made in Angola, porque Angola não existia como um país soberano, mas sim como uma província ultramarina de portugal ). Esse
tráfico de bens da primeira necessidade era só um pretexto, para disfarçar, mas o verdadeiro motivo que lhe obrigava deslocar frequêntemente no vizinho Congo, era o contacto com os dirigentes do
ABAKO para poder encontrar soluções (ajuda e apoio logístico) no assunto que tocava a descolonização ou independência de Angola (Damba) , a UPNA (união das populações do Norte de
Angola) que mais tarde se tornou UPA (União das Populações de Angola) existia já, mas os nacionalistas
Dambianos nada tinha em comum com este partido dos irmãos.
Em 15 de Março de 1961 quando à UPA lançou o primeiro ataque surpresa contra uma grande parte das cidades do Norte de Angola, nesta data a vila da Damba não sei se foi também atacada ou
não pelos elementos deste partido, mas os nossos valentes combatentes atacaram a vila da Damba no dia 17 de Abril do mesmo ano, onde um combatente nacionalista que o nome é desconhecido até
hoje, conseguiu tirar a bandeira lusa, foi profanada, jogada como uma bola, pisada ,deitada no chão e ele gritava: "Dibakamene...dibakamene", literalmente sgnifica retiramos a
bandeira do inimigo. Que humilhacâo! Infelizmente os adversários conseguiram abater o nosso bravo herói, mas houve também perda de vidas humanas em ambas as partes, sobretudo na parte do
inímigo português, porque na altura a vila da Damba não possuia uma força militar temível, este assalto que surprendeu todos os portuguêses e que lhes deixou sem palavras, era como um
primeiro aviso, não tenho dados exactos se este ataque foi feito em colaboração com os elementos da Upa ou não, apesar de todo o norte de Angola estar a viver já em situação de alerta na
altura, devido dos ataques da Upa que sacudiram quase todas localidades do antigo distrito do Congo (mais tarde províncias do Zaíre e Uíge), mas mesmo assim o colono sempre ignorava e subestimava
a força e determinação dos nossos valentes combatentes.
Duas semanas depois os nacionalistas Dambianos voltaram à atacar de novo a vila "Mbongi" da Damba ,
foi na noite do dia 02 de Maio de 1961 que aconteceu o segundo ataque de
grande envergadura que era planificado pelo meu pai, os nossos heroís aproveitaram novamente o mau tempo de nevoeiro que cobre a vila da Damba sobretudo nos períodos da tarde, porque o nevoeiro
favorecia a penetração, sem que os nacionalistas fossem vistos pelos colonos, como aconteceu no dia 17 de Abril.
Neste ataque os nacionalistas surgiram de repente em todas as
direcções que dá acesso à vila da Damba, assim o primeiro grupo veio de caminho de Kinkosi/Mbanza Mabubu, o segundo grupo
surgiu do caminho de Makela do zombo e o caminho de Nkama Ntambu (Camatambo) , o terceiro grupo surgiu da direcção Kiyanika/Nsala-Mbongi, o quarto grupo veio de aldeia Kinzenze caminho da granja do Concelho e o quinto grupo veio do bairro
Kinteka/Kinsanga. O Objectivo era de atacar o Concelho de Administração Colonial e o Club Recréativo da Damba onde os tugas se divertiam todas as noites, o ataque foi bem planificado e
elaborado com inteligência, apesar de não possuir instrução militar e armas sofisticadas, somente com armas de tipo caçadeiras e "canhangulos" arma de fabricação artisanal, catanas, barras de ferro e
paus e desafiaram os colonos com a superioridade militar evidente.
No dia 2 de Maio de 1961, houve em torno da Igreja da Damba, confrontos sangrentos, onde um padre perdeu a vida. (Foto de A.Kituma)
Neste mesmo ataque do dia 02 de Maio, um padre católico perdeu a vida, apesar de ser vestido de sua bata sacerdotal,
caminhava na direcção dos combatentes da liberdade que estavam posicionados à frente da igreja, ele vinha para negociar com os nacionalistas um acordo de cessar fogo, infelizmente ele foi
considerado como um espião e foi atingido duma bala em pleino peito e desmaiou e para poupar munições que era muito precíosa e rara, o padre foi acabado pelos
golpes de catanas, segundo pai, este padre foi visto pelos nacionalistas desde a janela da sua capela a dar tiros contra os independentistas, razão pela qual foi abatido como um
coelho.
Depois deste assalto, a vila sede municípal, foi reforçada pelo um batalhão de militares, mesmo com o reforço da tropa proveniênte de Maquela do zombo e o contingente que foi enviado pelo governo de Salazar especialmente para defender o
concelho da Damba, que a fama dos ataques dos nacionalistas chegaram até Portugal, mas os nossos valentes combatentes não tinha medo, nem foram intímidados pela presença militar e nada tinham a perder, patría ou morte
!
A determinação de atingir o seu objectivo a saber: A liberdade a todo custo, os valentes (makessa) antes de ir para o
combate, reuniam-se para rezar e confiavam-se na protecção ancestral, invocavam o deus dos
antepassados e outros mesmo que se confiavam no Deus todo poderoso pedindo assim a justiça dele, porque Deus é santo e justo, eles lutavam por uma justa causa, e quando o inimigo disparava eles gritavam "maza"! Que
significa literalmente água "que as bombas e as balas do inimigo ficavam sem efeito" ou não lhes atingia! Isto
dava-lhes coragem, apesar haver vítimas no lado deles.